Carta Aberta aos Peregrinos da Verdade
Uma Análise Sobre o Processo da Atual Civilização
Tales Elias Lima
Armageddon, um quadro de Nicholas Roerich
Aceitar uma verdade conveniente não é reconhecer a verdade em si, pois a conveniência faz parte da personalidade mortal donde inexiste qualquer possibilidade de compreensão da Verdade imutável. De forma análoga, por maior que seja o número de pessoas que acreditem em uma ilusão, ela nunca será a realidade.
A mente intuitiva em estreita relação com o principio espiritual (o quinto principio, Mental, voltado para o sexto, Búdico) está ao alcance de todos os seres humanos.
No entanto, o que presenciamos no atual momento terrestre é o entrelaçamento do antigo sistema de evolução, que desenvolveu a mente concreta, com o dealbar de um novo ciclo, que tem suas bases de atividade na mente abstrata. Por isso muitas vezes ainda teremos de lidar com os dois extremos que constituem os limites de cada sistema evolucional; aqueles que representam o grau mais baixo de evolução do ciclo passado são vistos em atos de extrema ignorância e crueldade. O grau mais alto do novo sistema é representado pela beleza, o raciocínio intuitivo e o anseio espiritual. Entre esses dois extremos encontra-se a quase totalidade da humanidade donde a curva evolucional aponta para que em breve a maioria se posicione do lado da balança que passa a pender para o espiritual.
Ambos o extremos devem continuar a causar espanto, até o momento em que o velho seja anulado totalmente e o novo passe a ser uma realidade palpável para todos.
Devemos considerar que os planos que constituem o quaternário inferior (físico, vital, astral e mente concreta), foram desenvolvidos anteriormente por antepassados de raças que nos antecederam. Dessa forma, trabalhar conscientemente a fim de estimular a mente abstrata é dever de cada individuo que vive hoje sobre o planeta Terra.
Decisões tomadas a partir de emoções descontroladas, do instinto de autopreservação com a intenção de satisfazer desejos e anseios pessoais são os últimos reflexos percebidos como resíduos de um ciclo que seca como uma poça as margens de do rio por onde fluem intensamente os valores da nova civilização.
No ciclo que finda, em raras vezes o ser humano entrava em contato com o mundo das idéias. Basta notar que quando verbalizada, a sentença; “Tive uma idéia!” - esta, geralmente era dita com exclamação em tom de comemoração. No entanto, em breve a idéia será um estado permanente, e assim, a afirmação, “tive uma idéia!”, perderá o sentido que tem atualmente, pois será o novo padrão de atividade mental no homem.
Mistificar os fatos apoiando-se em uma compreensão limitada a respeito da lei da reencarnação é desistir de avançar no caminho espiritual.
A maioria dos indivíduos aceitou determinados ensinamentos e adotou doutrinas ditas “espirituais” quando ainda era um impúbere psíquico. Dessa forma, para avançar no caminho em direção a Verdade se faz necessária a revisão desses valores admitidos anteriormente em tempos onde prevalecia certa ingenuidade, e a imaturidade emocional e intelectual predominava com maior intensidade.
Como diria um daqueles Mestres que trabalham através de eras sem conta para auxiliar o progresso da humanidade: “O Verdadeiro Homem é aquele que não fica radicado nas mesmas idéias”.
Ou seja, o verdadeiro buscador deve ser um livre pensador, manter a mente aberta, ser um intrépido pesquisador sem nunca deixar o bom-senso de lado. Esses são fatores essenciais para se alcançar a meta almejada. O orgulho, a vaidade e o misticismo são, no entanto, grandes armadilhas para os incautos.
Porém, para ir além da letra morta, é necessário muito mais do que isso. Além de manter a mente aberta, é necessário estar atento e, conservar o coração puro através de um esforço diário em se levar uma vida limpa; física, emocional e mentalmente.
A partir do trecho destacado abaixo de um livro de Paul Brunton [1], podemos perceber a diferença abismal que existe entre o individuo que leva uma vida essencialmente voltada para realizações da personalidade inferior e o verdadeiro buscador da Verdade.
“Aquele que busca não pode imitar a vida convencional de outras pessoas. Precisa fazer algumas mudanças, e especialmente alguns sacrifícios, se é para seguir um caminho cuja meta seja diferente da meta delas. Precisa encontrar algum tempo para a meditação e para o estudo, tempo em que possa ser ele mesmo verdadeira e plenamente, e isso exige um período diário de solidão, por mais breve que seja. Precisa planejar sua dieta de forma que não traga mais dificuldades ao seu trabalho interior. Precisa ter cuidado com as companhias, de forma que não fique constantemente reagindo à aura dos demais, seja para lutar, seja para se defender."
Dessa forma, podemos entender que a vontade deve ser forte e a paciência tão firme quanto possível. A intrepidez se faz necessária, porque os sinais que apontam para o caminho que conduz a Verdade não estão esperando em algum lugar; mas encontram-se espalhados ao longo de um extenso caminho e seus fragmentos devem ser reunidos com dedicação inabalável.
Percorrer um caminho pré-estabelecido não conduz a Verdade. Seguir a manada, o caminho das respostas fáceis e as formulas comerciais apresentadas em livros sem conta, recheados de “sacadas New Age” só reforçam a ilusão, pois fazem surgir no individuo a falsa sensação do dever cumprido.
Os verdadeiros mestres repreendem muito mais do que elogiam e através de determinados processos peneiram ao máximo a quantidade de seguidores até o momento em que resta apenas um punhado de discípulos sinceros que nesse ponto já esqueceram totalmente de si próprios enquanto personalidades humanas individuais.
Se a Verdade pudesse ser profanada ela seria de domínio público e a questão da evolução humana já estaria resolvida.
Nesse caso, vale a máxima de que quando o aluno está pronto, o mestre aparece. Tal afirmação deve ser vista sem qualquer misticismo. Simplesmente que o individuo purificado - aquele que apaziguou o físico, astral e mental - se torna permeável as inspirações de planos superiores, assim como quando a luz do sol penetra por entre pequenas brechas entre nuvens e assim pode iluminar uma porção de terra.
Em seu artigo “O Caminho, A Verdade e a Luz”[2], John Garrigues, pondera:
“Ainda há no mundo de hoje pessoas que só se preocupam com a supremacia física. Não muito longe desse nível, há gente para quem a vida é uma espécie de competição na qual vence “o mais esperto”. Outros tantos, incapazes de pensar, constroem seu caminho procurando pelos prazeres do momento. Todos estes seres são peregrinos na Grande Viagem da evolução, embora viajem numa escuridão sem consciência.”
Analisando o processo do peregrino da vida espiritual, o Sr. Garrigues continua:
“Para aquele que viaja com um coração cheio de problemas, há algo de doloroso na glória do pôr-do-sol. O bosque escuro que o vento movimenta acima dele reforça e prolonga os seus suspiros; não há paz no movimento das folhas. Mas quando alguém conhece a felicidade interior do coração, todas as coisas contribuem para a caminhada. Poderíamos aproveitar o pensamento de um Viajante sábio e dizer:
“A partir de agora eu não peço mais por boa sorte. Eu próprio sou a boa sorte!”
Em seus respectivos textos, Jonh Garrigues e Paul Brunton, procuram deixar tão claro quanto possível a responsabilidade de cada um diante do processo de evolução pessoal e coletivo.
A crença cega gera o misticismo e embota a razão. Buscar a salvação em orações a um ser imaginário, que castiga aqueles que se opõe a suas leis e beneficia os pobres e coitados; depositar esperanças em seres angelicais e criações astralinas; ou extraterrestres que salvarão os eleitos e os conduzirão em suas naves para um planeta mais “elevado”, são exemplos de um tipo de crença que impede que o ser humano reconheça seu potencial ilimitado para realizar e fazer o bem.
Se após chegar até aqui, o leitor ainda estiver se perguntando do que vale saber de tudo isso, então, me vejo obrigado a devolver a questão com outra pergunta:
Que importância tem a verdade em sua vida?
Distinguir a ilusão da realidade deveria ser motivo suficiente para qualquer individuo consciente empreender uma busca deliberada em busca da verdade. A Verdade é a única vida que existe; é conhecer a si mesmo.
Aquele que persiste na ilusão está conscientemente se colocando a margem do ciclo em que vive.
Em casos como este, colhem-se os frutos da própria ignorância (do desconhecimento da Lei). Vive-se em uma eterna gangorra de emoções; muito sofrimento, alguns momentos de satisfação, uma porção de desespero e um sentimento de insatisfação constante.
Viver como uma pedra, a margem do processo, celebrando a inconsciência humana é desrespeitar seus irmãos de raça. Mas não só isso, ao invés de contribuir para que uma nova consciência se estenda por todo o globo, agir de tal forma é fazer exatamente o contrário.
Diferente do que alguns poderiam imaginar; conduzir a vida dessa maneira não só é um desperdício existencial para o individuo em questão, mas causa dificuldades de progresso para o seu entorno. Tal fato significa trabalho redobrado aos servidores anônimos que dedicam suas vidas para que a Lei seja cumprida e o gênero humano alcance o grau de evolução previsto para os tempos atuais.
Em uma carta ao Ashram Satyagraha, Gandhi escreve sobre a necessidade da busca pela Verdade.
É importante salientar que para Gandhi - assim como para os Mestres que alcançaram a libertação da roda de encarnações terrestres - a Verdade é a Lei Universal; imutável, que rege o macro e o micro. Muitas vezes, ao atribuímos a esses valores o termo, Deus, não percebemos que estamos limitando aquilo que não tem limites, e assim, limitamos também nossa própria capacidade de compreensão daquilo que é inefável.
Diz a carta de Gandhi:
“Onde está a Verdade está, também, o conhecimento que é verdadeiro. Onde não está a Verdade não podemos encontrar o conhecimento verdadeiro.
Somente a devoção a esta Verdade justifica a nossa existência. A Verdade deve ser o centro de toda nossa atividade. Ela deve ser o sopro da nossa vida. Quando o peregrino chega a esta etapa do caminho que percorreu, ele descobre sem nenhum esforço as outras regras da vida e a elas se amolda instintivamente.”[3]
Dessa forma, podemos concluir que não basta fazer o bem, porque o bem é uma ilusão confortável quando destituído da Verdade.
Notas:
[1] PAUL BRUNTON (1898-1982) - Práticas para a Busca Espiritual - Relax e Solitude (The Notebooks of Paul Brunton - Volume III) Ed. Pensamento, São Paulo, 2001, p.16-17. O trecho presente neste post foi destacado originalmente por Rosemare Vieira Gomes em mensagem destinada ao E-Grupo SerAtento, do yahoo.
[2] O texto “O Caminho, A Verdade e a Luz”, de John Garrigues, pode ser encontrado na íntegra acessando link: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1318#.UFHhLrJlSVk
[3] O texto “Sobre a Verdade - Satya”, de Mahatma Gandhi, do qual foi extraído o trecho acima pode ser encontrado na íntegra acessando o link: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1140#.UFH8Y7JlSVk
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